terça-feira, 17 de abril de 2007

Vacâncias















Fui de férias pela Páscoa com a minha namorada. Foram mais do género mini-férias e assemelharam-se mais a umas micro-férias, mas pelo menos, teve a palavra férias e isso é que interessa. O destino foi o Sul de Espanha, na secreta esperança de encontrar 35 graus à sombra e vir todo queimado. Algo que vá-se lá saber porquê, não sucedeu. Consegui ainda assim ir a um só País e expressar-me em três línguas diferentes e uns quantos dialectos. Incrível. Qual poliglota, qual quê! Português, Espanhol e Inglês para além dos sempre úteis dialectos Espanholês e Portunhol.

A praia, essa visualmente era muito boa, mas terrivelmente mal frequentada, era basicamente só espanhóis. Eram bem mais que o recomendável pelas normas de segurança e higiene, pois excediam em larga escala um espécimen. O pior é que não eram apenas uns fulanos que se expressavam em castelhano. Não, nada disso! Aquilo parecia aliás uma típica praia ocidental lusitana em pleno Agosto. que por incrível que pareça, sem “Avec’s” mas com mais berros e muitos mais “perros”, para além dos sempre indesejados hispânicos. As parecenças não se ficam por aqui. Havia também ao bom estilo tuga, os papagaios. Mais concretamente, o acto de empinar papagaios. Não é que, com tanto avanço tecnológico, não há maneira de se acabar com isto? Até em Espanha! Um país dito mais desenvolvido. Estamos a falar de um homem, crescido, que agarra por um fio de pesca um papagaio. Não é a ave, é de brincar. Parece que o papagaio é o seu animal de estimação e ele o está a passear, recorrendo-se da trela para que não fuja. Como se faz com os cães mais histéricos. É que, ainda por cima, este pessoal dos papagaios é quase sempre um pai a ensinar aquela milenar arte aos seus filhos. Como se fosse uma arte perdida, que se passa de geração em geração em segredo. Mas empinar papagaios é tão uma arte como dizer o nome inteiro com um arroto sem beber Coca-Cola. É claro que o miúdo está sempre fascinado a olhar para o pai que empina papagaios. O pai é mágico! Um feiticeiro! O meu pai consegue fazer voar coisas, pensa o pirralho maravilhado. Eu também consigo parecer super poderoso à frente de um catraio. Basta-me ter uma caneta e fazer aquela coisa de a abanar para cima e para baixo até parecer que é agora, graças aos meus poderes, é um objecto super maleável. Acima de tudo, o papagaio é que está a voar. Quanto muito, é ele que se diverte. O gajo que empina limita-se a ver um bocado de plástico a planar. Eu, aqui ao pé de casa, já vi sacos de plástico do Continente e até bocados de esferovite a pairar, lá bem no alto. Não me senti minimamente maravilhado. Assim, onde é que está a emoção disto? É um desporto, uma prova de destreza? Então como é que se perde a empinar um papagaio? Como é que se ganha? É só metê-lo lá em cima, a levitar? A satisfação advém desse simples acontecimento? É que meter um bocado de papel ou plástico de forma poligonal a voar num terreno aberto debaixo duma ventania diabólica não me parece mesmo grande avaria. Aquilo cai, levanta e paira quando o vento quer. Empinem uma alheira ou umas orelheiras, mas é. Isso, sim, já me parece complicado. Fiquei deveras surpreendido quando encontrei um fulano com detector de metais. Mas quem é este indivíduo? Está a brincar ao Indiana Jones e espera encontrar o Santo Graal enterrado ali numa praia do Sul de Espanha a uns míseros centímetros de profundidade? Além da parvoeira que é andar na praia com um instrumento que parece um aspirador e só encontrar latas, garfos, pilhas e dentes chumbados, este tipo tinha um uniforme específico. Ostentava um panamá, sandálias, meias grossas de cor escura, corsários de napa, um pólo, uma luva de meio dedo na mão que empunha o instrumento de detecção e uma daquelas bolsas de usar à cintura. E depois parecia que estava em trabalho e que aquilo era uma ciência. Sim, ele dava a entender que não era só andar com uma vara metálica à espera que se ouvisse um apito para poder começar a desenterrar lixo. Só tenho pena que as fraldas, os pensos higiénicos e os pensos rápidos não tenham um qualquer composto metálico que faça soar o alarme daquela parvoeira detectora. Talvez a fralda de um puto com uma dieta rica em mercúrio ou potássio dê para isso. O que eu adorava vê-lo, esperançoso como nunca, a escavar um buraco para encontrar um tesouro do género. Seria gratificante vê-lo escavar uma porcaria dessas com as próprias mãos. Não tive o prazer de presenciar tal coisa, mas apesar de tudo, comecei a meter um cêntimo em todas as fraldas que encontrei e depois andei a enterrá-las ao acaso na praia.

Depois os “perros”, já nem sei como se diz em português! Ao invés da nossa pátria amada aqui as raças de estimação são caniches e chihuahuas. Depois surpreendem-se quando as meninas e mulheres espanholas barram as partes baixas com paté de atum ou manteiga de amendoim e assobiam pelo Bobby. Francamente. Em Portugal pelo menos adoramos verdadeiras raças de canídeos, daqueles que não passeamos na palma da mão, como o Rotweiller e o Pitbull, animais capazes de ferir de morte e assim outras coisas graves. Nada dessas paneleirices castelhanas, uma coisa à Homem mesmo. Mas os tipos apesar das tendências a fugir descaradamente para o empurrar dos excrementos para dentro, são espertos. Colocam nas ciclovias ao longo da praia e desde tenra idade, os miúdos a andar naqueles bólides que se deslocam enquanto se pedala, é um 2 em 1. Daí que talvez não seja por mero acaso que o campeão mundial de fórmula 1 e de ciclismo, sejam oriundos de Espanha. Foi lá que me deparei com o inovador método que explica o porquê dos “nuestros hermanos” serem uma potência no atletismo em geral e no desporto em particular. Método tão simples quanto peculiar. Qualquer pessoa o pode pôr em prática. Neste caso, a protagonista era uma senhora pré-menopausica que de forma a melhorar o seu vigor físico, esfumaçava violentemente tabaco durante o seu jogging matinal, qual chaminé de lareira na noite da véspera de Natal. A explicação para tal acto baseia-se na seguinte teoria científica: O rendimento de qualquer músculo depende de uma boa oxigenação. Logo, a inalação de nicotina faz com que a hemoglobina que transporta o oxigénio dos pulmões para os tecidos o liberte, de modo a ser utilizado pelos músculos, agregando-se assim às partículas de nicotina dispersas no fluído vascular em detrimento do normal dióxido de carbono. Os músculos tornam-se assim mais vigorosos e mais oxigenados evitando os depósitos de ácido láctico. Tornando assim qualquer fulano num super atleta, até mesmo os de ascendência espanhola. Por isso já sabem, se quiserem melhorar o vosso rendimento desportivo fumem à bruta durante o exercício físico.

Todavia, a situação mais caricata ocorreu numa das deslocações que fizemos à pátria mãe para comprar o precioso néctar, a cerveja. É que é do senso comum que as marcas espanholas são uma porcaria e as marcas estrangeiras, essas custavam uma pequena fortuna. Não sei o que compram os portugueses raianos daquela zona quando vão a Espanha, mas nós tivemos que vir ao tradicional Mini Preço de Vila Real de St. António. Lá descobrimos como fugir às investidas da ciganada que anda a pedir nos estabelecimentos comerciais. Estava calor e estávamos de óculos de sol, calções, t-shirt e chinelo de dedo. Há uma miúda cigana já filada em vir cravar guita quando a sua mãe a interpela com a seguinte frase “Tu não vês que são estranjas filha?”, e afastaram-se. Estavam a correr bem as férias pois no primeiro dia já tínhamos aspecto de turistas no nosso próprio país. Na caixa, o típico, uma mulher e o seu filho queixam-se do preço das postas de pescada que têm um preço tabelado e outro mais elevado marcado. Uma diferença de 2 cêntimos! É coisa para dar vontade de ir pedir emprestada ao Mestre Maco uma serra eléctrica para resolver uns assuntos. Vou ali e já venho. Será que emprestam?! Após uns intermináveis 15 minutos de espera e com a chegada do superior da senhora da caixa a coisa resolveu-se. É nestas situações que também me questiono se realmente Deus existe, e se sim, é nestas situações que ele se devia manifestar. Como? Simples! Provocando uma combustão instantânea na senhora e no seu irritante filho. Tal não ocorreu, mas mesmo assim suscitou-me dúvidas quanto à sua existência, pois a senhora no final com os acertos e tudo teve que pagar quase mais cinco euros. Hum soube tão bem! O doce sabor a justiça cumprida. Mesmo assim a serra era mais prática e rápida. Mas enfim.

1 comentário:

JstHempit disse...

Pois é perceiro...aquilo é que deve ter sido curtir... tinha varios comentarios para fazer mas perdi-me e jo so me lembro da cerveja e da cigana. Sendo assim tenho a dizer que sem duvida uma boa Super Bock é melhor que uma Mahou ou uma San Miguel de 0.2l... É o orgulho nacional!!!