Deixei de ser um crente quase de um dia para o outro. Pus-me a pensar bem no assunto e apercebi-me que a ideia de um Deus pessoal é um bocado ingénua, infantil até. Porquê? Porque se trata de uma fantasia criada pelo Homem para tentar influenciar o seu destino e buscar consolo nas horas difíceis. Como nós não podemos interferir com a natureza criamos a ideia que ela é gerida por um Deus benevolente e paternalista que nos ouve e que nos guia. É reconfortante! Criámos a ilusão de que, se rezarmos muito, conseguiremos que Ele controle a natureza e satisfaça os nossos desejos, assim por artes mágicas. Quando as coisas correm mal, e como não compreendemos que um Deus tão benevolente o tenha permitido, dizemos que isso deve obedecer a um qualquer desígnio misterioso e ficamos assim mais confortados. Ora, isso não faz sentido!
Nós somos uma de entre milhões de espécies que ocupam o terceiro planeta de uma estrela periférica de uma galáxia mediana com milhares de milhões de estrelas, e essa galáxia é, ela própria, uma de entre milhares de milhões de galáxias que existem no universo. Como posso eu acreditar num Deus que se dá ao trabalho de, nesta imensidão de proporções inimagináveis, se preocupar com cada um de nós?!
A Bíblia diz que Ele é bom e é omnipotente. Se é omnipotente, pode fazer tudo, incluindo preocupar-se com o universo e com cada um de nós! Se Ele é realmente bom e omnipotente, como pretende a Bíblia, porque razão permite a existência do mal? Porque razão deixou que a Floribella regressasse, ou permitiu que Valentim Loureiro fosse reeleito e José Castelo Branco lança-se um Cd?
Para mais, se virmos bem, os dois conceitos são contraditórios! Se Deus é bom, não pode ser omnipotente, uma vez que não consegue acabar com o mal. Se Ele é omnipotente, não pode ser bom, uma vez que permite a existência do mal. Logo um conceito exclui o outro!
Qual preferem?! Digamos que é bom! Se lerem a Bíblia com atenção (aconselho antes os desenhos animados!), reparamos que ela não transmite a imagem de um Deus benévolo, mas antes de um Deus ciumento, um Deus que exige fidelidade cega, um Deus que causa temor, um Deus que pune e sacrifica, um Deus capaz de de dizer a um pai para matar o próprio filho só para ter a certeza de que ele Lhe era fiel. Pois se Ele é omnisciente, não saberia já que Lhe era fiel? Para quê, sendo Ele bom, esse teste tão cruel? Porque nos obriga a conviver no mesmo planeta que Bibá Pitta, Lili Caneças ou Paula Bobone? Porquê?! Alguém assim, não pode ser bom!
Sendo ele o criador do universo, é pelo menos omnipotente, não?! Será? Se assim fosse, por que razão pune Ele as suas criaturas se tudo é Sua criação? Não estará Ele a puni-las por coisas de que Ele é, afinal de contas, o exclusivo responsável? Ao julgar as suas criaturas, não estará Ele a julgar-se a si próprio? Só a Sua inexistência O poderá desculpar! Aliás, se formos a ver bem, nem sequer a omnipotência é possível.
Há um paradoxo que explica a sua impossibilidade e que pode ser formulado da seguinte maneira: "se Deus é omnipotente, pode criar uma cerveja que seja tão forte que nem Ele próprio a consegue beber." É justamente aqui que radica a contradição! "Se Deus não conseguir beber a cerveja, Ele não é omnipotente (Nem de Electro!). Se conseguir, Ele também não é omnipotente porque não foi capaz de criar uma cerveja que não conseguisse beber." Conclusão, não existe um Deus omnipotente, isso é uma fantasia do Homem em busca de conforto e também de uma explicação para o que não entende.
Por isso, apenas creio na religião Electrã:
Confortai-me,
Dinamau,
X-Drac,
Amén.